21
nov
Instituto acompanhou os debates em âmbito global durante toda a Conferência, e critica falta de avanço e implementação de políticas.
A Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas – COP30 chega ao fim nesta sexta-feira (21) sem nenhuma política concreta para ser implementada na área de agricultura e segurança alimentar. A crítica é realizada pelo Instituto Mapinguari, organização da sociedade civil do estado do Amapá, que acompanhou todo o processo de negociação da Sharm el-Sheikh Joint Work on Agriculture and Food Security (SJWA), principal fórum de negociação da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre segurança alimentar frente às mudanças climáticas.
O SJWA foi criado na COP27, realizada em Sharm el-Sheikh, Egito, em 2022, como continuidade ao Trabalho Conjunto de Koronivia sobre Agricultura (KJWA). Seu objetivo é abordar o sistema alimentar como um todo e promover ações práticas e políticas que garantam segurança alimentar no contexto de mudanças climáticas constantes.
Esse trabalho conjunto entre as partes possui um prazo final para 2026, quando as Partes devem ter um conjunto de ferramentas e entendimentos sobre a integração da agricultura com as questões climáticas para uso em planos nacionais de adaptação. Mas, o que tem acontecido são debates que não saem da teoria, afirma a diretora executiva do Instituto Mapinguari, Anália Barreto.
“Há, sim, avanços discursivos: o reconhecimento da agroecologia, do conhecimento tradicional, das abordagens sistêmicas. Mas sem metas de financiamento, sem mecanismos vinculantes, sem garantia de implementação, essas palavras correm o risco de virar apenas retórica confortável. Precisamos transformar esse consenso acumulado em ação real. Porque cada ano de adiamento não é neutro: custa vidas, territórios, safras, culturas, modos de vida e futuro”, critica a diretora.
Nesta COP, o Mapinguari foi credenciado pela ONU como instituição observadora, sendo a única do Amapá com esse status. Com isso, o Instituto passou a poder participar mais de perto das negociações do SJWA realizadas na “Zona Azul”, e ainda contribuir com recomendações técnicas e políticas – o que já começou a ser feito.
“Politicamente, o SJWA repete um padrão conhecido: um acúmulo de consensos discursivos, mas quase nada que mude a realidade de quem produz alimento nos territórios. Temos um texto que sabe diagnosticar, sabe nomear a urgência e sabe reconhecer quem sustenta a segurança alimentar do mundo. Mas, ao final, o que se decide é seguir conversando até 2026. O Programa de Trabalho que deveria ser de implementação continua sendo, na prática, um programa de discussão”, conclui Anália Barreto.
O Instituto Mapinguari seguirá acompanhando as negociações, retomadas em junho do próximo ano, na Conferência Climática de Bonn, na Alemanha.